Projeto de altas habilidades


MATEMÁTICA PARA ALUNOS COM ALTAS HABILIDADES

Mônica Piotsckowski
Profª Ms. Marieli Musial Tumelero

Resumo: Segundo o Decreto nº 6.571 - Artigo 1º, de 17 de setembro de 2008, “a União prestará apoio técnico e financeiro aos sistemas públicos de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, na forma deste Decreto, com a finalidade de ampliar a oferta do atendimento educacional especializado aos alunos com altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular”. Por mais que isso possa soar um pouco estranho, atualmente é mais frequente do que se imagina encontrar alunos com altas habilidades ou índice de superdotação. Bem maior que as dificuldades, são as recompensas de se trabalhar com esse tipo de alunos, e o benefício é recíproco, pois proporciona ao docente e discente o desenvolvimento de competências, habilidades. Viabiliza o sucesso, dando-lhes oportunidades de aprendizado específico e estimulando suas potencialidades criativas e o pensamento reflexivo. Foi com tudo isso em mente, que, nos propusemos a desenvolver um projeto voltado a essa área do conhecimento no Colégio Estadual Mário de Andrade, de Francisco Beltrão. Neste trabalho apresentaremos de forma sucinta algumas informações que consideramos relevantes sobre os alunos com altas habilidades, bem como um pouco do trabalho que estamos desenvolvendo com os mesmos.

Palavras-chave: Altas habilidades; Superdotação; Ensino; Matemática.           

Introdução

A primeira coisa que vem a cabeça de muitas pessoas quando se fala em alunos com altas habilidades/superdotação é que tratam-se de gênios, porém isso não passa de um mito. Superdotado, segundo Sabatella (2006), é um indivíduo que apresenta uma ou mais áreas de habilidades ou talento, ao passo que um gênio além de possuir habilidades relevantes, as usa na produção ou descoberta que venha a alterar conceitos, mudar verdades; dando uma contribuição original e de grande valor a sociedade.
Além disso, é necessário reconhecer, aceitar e respeitar que o aluno com altas habilidades não faz parte de um grupo uniforme, ou seja, não existe um perfil único que possa definí-los. Estes integram um grande grupo que pode incluir: capacidade intelectual geral, aptidão acadêmica específica, pensamento criativo, capacidade de liderança, talento especial para artes, capacidade psicomotora, ou vários desses fatores unificados.
Para dinamizar e organizar práticas pedagógicas que atendam esses alunos é necessário o uso de procedimentos que proporcionem vivências para a construção pessoal, favorecendo assim o desenvolvimento das potencialidades, postura crítica, juntamente com o sentir, o criar e o imaginar. É preciso promover a curiosidade.
Com a proposta de atendimento aos alunos com altas habilidade/superdotação e fundamentada nos princípios filosóficos da educação inclusiva, a Sala de Recursos do Colégio Estadual Mário de Andrade – CEMA, localizada no município de Francisco Beltrão, região Sudoeste do Estado Paraná, promove ações, a fim de desenvolver atividades de enriquecimento da aprendizagem; evitar que o talento humano seja perdido; proporcionar estimulação e orientação necessária ao desenvolvimento adequado; promover situações de interação em diferentes espaços de aprendizagem; estimular atividades exploratórias em ações extracurriculares em diferentes áreas do conhecimento.
As ações mediadas pela professora especialista em educação especial e regente da Sala de Recursos, Ingrid Aparecida de Oliveira Machaco, têm a finalidade de instigar o educando a tornar-se produtor e não somente consumidor de conhecimentos. Atende às áreas de interesse do discente, possui momentos de interação grupal em atividades de organização de trabalhos intelectuais e elaboração de propostas sobre um campo de interesse; elabora material gráfico concernente às habilidades demonstradas e discute temas atuais e expressão do conhecimento.
Durante as oficinas de matemática, projeto desenvolvido concomitantemente e em conjunto com o projeto PIBID – Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência Matemática da UTFPR, campus Pato Branco, buscamos trabalhar o raciocínio lógico-matemático, desenvolver práticas pedagógicas voltadas para aprendizagem das áreas exatas e trabalhar no desenvolvimento das especialidades de cada aluno.

Estrutura Cerebral

“Pessoas brilhantes se tornam brilhantes, não por conhecer todas as respostas, mas por saber pensar melhor e eliminar os erros ao escolher as respostas.” Eric Jensen
O cérebro humano é um órgão altamente adaptável, a capacidade do aprendizado pode aumentar ou diminuir em 25% ou mais, dependendo do meio de incentivo e estímulo em que o indivíduo se desenvolve. O processo de retenção de informações é melhorado pela qualidade, força e velocidade com que os estímulos são transmitidos. Assim, amplas oportunidades de exploração do conhecimento podem alterar a estrutura do cérebro humano (BARRET, 1992).
Uma das pesquisas pioneiras sobre o efeito de um meio enriquecido no desenvolvimento do cérebro foi feita pela cientista Marian Diamond e seus colegas, no início da década de 1960. Eles puderam estudar lâminas do cérebro de Albert Einstein, pois desejavam saber se havia diferenças que explicassem sua genialidade matemática. Por meio de exames de amostras retiradas da parte onde se processava o pensamento lógico-matemático, verificaram a existência de mais células auxiliares da neuróglia, responsáveis por “cuidar dos neurônios”, do que na maioria das pessoas, concluindo, assim, que Einstein possuía mais conexões sinápticas, através das quais acontece a transferência de informação, o que resulta em maior rapidez e mais complexidade nos padrões de pensamento. Características estas encontradas em crianças superdotadas (BARRET, 1992).
Apesar disso, o senso comum por muitas vezes tem a ideia de que a superdotação é característica totalmente inata. Tal afirmação, porém, ignora a grande influência que os fatores externos tem no desenvolvimento de aptidões e capacidades humanas. Uma pesquisa de Diamond, publicada em 1998, mostra, conclusivamente, que as experiências em tenra idade podem alterar a estrutura física do cérebro, em particular o estímulo intelectual. Em recente entrevista, a pesquisadora comenta ainda como o meio influencia o desenvolvimento sócio-emocional da criança e reforça dizendo que “não é preciso dinheiro para criar uma atmosfera que encante as mentes para se desenvolver. É somente a informação, imaginação, motivação e esforço. Uma vez que o hábito de envolvimento ativo se instala, a experiência irá comandar e aquelas mentes estimuladas farão o resto, de forma surpreendente e prazerosa” (DIAMOND, 2005).
Devemos enfatizar ainda outro aspecto muito importante sobre a organização do cérebro, e este pode auxiliar o entendimento sobre aprendizagem e o desenvolvimento da inteligência, trata-se da assimetria existente entre os hemisférios cerebrais. Pesquisas provam a utilidade do conhecimento de que cada hemisfério é especializado em certo tipo de função. Tal identificação da especialização alerta para a necessidade de diferentes tipos de experiências educacionais para que se obtenha a utilização de todo o potencial que possuímos. (SABATELLA, 2006)
O hemisfério esquerdo, nas pessoas destras e na maior parte das canhotas, é predominantemente analítico, linear, lógico; lida com problemas abstratos e processa as informações de modo sequencial. Já o hemisfério direito, é mais intuitivo e emocional, responsável pela orientação espacial, talentos artísticos; lida com problemas concretos e processa informações de modo analógico (SABATELLA, 2006).
Muitas vezes, ou quase sempre, as escolas direcionam sua prática para a aprendizagem analítico-cognitiva do hemisfério esquerdo, enquanto desvalorizam ou até suprimem qualquer utilização da cognição mais global, especialidade do hemisfério direito (ANDRADE, 1990).
Porém, a inteligência é potencialidade e, portanto, habilidade que se desenvolve. “A inteligência não é hereditária; não é inata. O que é inata é a faculdade, a aptidão, a capacidade que permite a qualquer ser humano normal chegar a ser inteligente” (ANDRADE, 1990, p.14).


Superdotação

A palavra superdotado (indivíduo dotado de inteligência acima do normal) foi inicialmente usada para identificar indivíduos que estavam na faixa superior de cinco por cento da população, após um teste de inteligência geral. Porém muitas organizações, escolas, educadores, etc. não ficam confortáveis ao usar a palavra superdotação e muitas vezes preferem evitá-la. Muitos até resistem em aceitar estes alunos como superdotados, isso por não saber como lidar com os mesmos ou temendo desmerecer os demais. (SABATELLA, 2006)
Entretanto, se a proposta educacional legal é reconhecer, dar apoio e ter recursos para que se desenvolva um trabalho inclusivo nessa área da educação especial, a primeira e principal condição é acreditar que existem alunos inteligentes, brilhantes e superdotados e respeitar suas diferenças.
Atualmente, existem vários termos para designar esses alunos, os mais utilizados são:
·         Altas Habilidades: adotado pela influência do Conselho Europeu para Altas Habilidades – ECHA (European Council for High Hability).
·         Superdotado ou Talentoso: adotado pela nomenclatura do Conselho Mundial para Crianças Superdotadas e Talentosas – WCGTC (World Council for Gifted and Talented Children).
·         Superdotação: usado pela Federação Ibero-Americana – Ficomundyt (Federación Ideroamericana Del World Council for Gifted and Talented Children).
Segundo Sabatella (2006), muitas mudanças vêm ocorrendo na definição da superdotação, sendo que as principais são no sentido de torná-la um conceito multidimensional, que inclua não apenas habilidade intelectual superior, mas outros aspectos de relevante importância: criatividade, liderança, talento específico, curiosidade e interesse altamente superior ao da faixa etária. Porém, é importante que se entenda que a superdotação não é sinônimo de genialidade, um gênio não apenas possui habilidades relevantes, como também utiliza sua capacidade para uma produção ou descoberta que venha a alterar conceitos, mudar verdades, dando contribuições originais e de grande valor para a sociedade. Portanto nem todo superdotado é um gênio, mas todo gênio é superdotado.

Sala de Recursos de Altas Habilidades

Com ideias inovadoras e buscando desenvolver um trabalho diferenciado e principalmente, direcionado para alunos que demonstram as características intelectuais descritas anteriormente foi que surgiu, em agosto de 2009 no Colégio Estadual Mário de Andrade da cidade de Francisco Beltrão - Paraná, a “Sala de recursos de altas habilidades”. Idealizado pela professora Ingrid de Oliveira Machado, especialista em educação especial e regente da sala de recursos, este projeto tornou-se pioneiro neste tipo de trabalho, e direcionamento pedagógico, no sudoeste do Paraná.
A Sala de Recursos de Altas Habilidades é um programa implantado pelo governo estadual que procura revelar talentos e aperfeiçoar os processos de pesquisa científica. A fundamentação básica da proposta paranaense é baseada na concepção de Joseph Renzulli, escritor norte-americano, que define a alta habilidade como “capacidade específica acima da média, comprometimento com a tarefa e criatividade.”
Inicialmente com cinco alunos avaliados, a sala de recursos de altas habilidades conta atualmente com 22 alunos, todos oriundos da rede estadual do município de Francisco Beltrão, e devidamente avaliados no contexto escolar. Segundo a coordenadora e responsável pelo projeto, é preciso ter sensibilidade para identificar tais alunos corretamente, “três características precisam andar juntas para que alguém seja identificado como pessoa com “altas habilidades”: habilidade acima da média, alta criatividade e grande envolvimento com a tarefa”, diz a profª Ingrid.
Contudo, apesar de todo envolvimento e esforço em tornar tal iniciativa um projeto bem sucedido, muitas dificuldades foram encontradas nesse período. Existem muitas escolas e até as próprias famílias que não estão preparadas para identificar os talentos, as habilidades e as necessidades de cada um. Por isso, muitos desses alunos acabam não sendo identificados e trabalhados pelos meios de ensino, tornam-se invisíveis e muitas vezes até fogem da escola. (MACHADO, 2010)
Ainda assim, o projeto vem se aperfeiçoando e se mostrando cada vez mais desenvolvido. As atividades são realizadas em período contrário a classe comum e nele são oferecidos desafios constantes, visando desenvolver habilidades específicas tanto na área intelectual, quanto artística.
Foi neste contexto que a professora Ingrid buscou parceria com a UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, campus de Pato Branco; visando oferecer aulas de matemática a esses alunos. Surgiu então o intitulado “Matemática para alunos com altas habilidades/superdotação”. Desenvolvido pela acadêmica do 3º ano do curso de Licenciatura em Matemática, Mônica Piotsckowski, e sob a orientação da professora mestre da universidade, Marieli Musial Tumelero, este é um projeto desenvolvido em conjunto com o projeto o PIBID - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência Matemática do qual a acadêmica é bolsista.
Neste projeto são realizadas oficinas de matemáticas uma vez por semana com esses alunos, cujo objetivo é trabalhar o raciocínio lógico-matemático e desenvolver práticas pedagógicas voltadas para aprendizagem das áreas exatas. Inicialmente, durante o primeiro mês do projeto, procuramos desenvolver atividades de diferentes direcionamentos que pudessem nos orientar sobre como é o comportamento desses alunos e como se dá sua aprendizagem. Essas atividades envolveram exercícios de raciocínio lógico, exercícios específicos de conteúdos matemáticos, apresentação por parte dos alunos de seminários sobre alguns tópicos da matemática e também atividades lúdicas. Com isso pudemos reconhecer as características específicas de cada aluno, e a partir disso começamos a desenvolver as oficinas de matemática buscando desenvolver as especialidades de cada um.
Todos os alunos que frequentam o projeto tem cerca de quatorze anos ou menos, e apesar da pouca idade muitos deles já tem algumas conquistas, como medalhas na OBMEP – Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas, e outros concursos a nível estadual e nacional. Tem uma capacidade de raciocínio incrível para suas idades, são altamente críticos e criativos.
Apesar disso, uma das dificuldades encontradas em trabalhar com eles é a aversão que alguns tem em escrever, formalizar as ideias, em se expressar, conviver em grupo. Ao contrário de alguns que são muito expressivos, gostam de expor suas ideias, conversar, discutir, outros preferem ficar isolados, preferem o silêncio de seus próprios pensamentos, e a convivência consigo mesmo.
Salvo as características peculiares de cada um, afinal são seres humanos, eles demonstram acima de tudo a vontade de conhecer, de serem desafiados, de construir o conhecimento e não apenas aceitá-lo como ele é, a vontade de mudar as coisas que não consideram boas no mundo, de criticar ou elogiar quando julgarem necessário. Desejam serem membros da sociedade e não apenas viver nela.


Considerações Finais

Poucos ainda foram os passos dados visto a longa caminhada na Pesquisa de Educação Especial. Muitos mitos e conceitos falsos, utilizados do senso comum, permeiam o termo Superdotação. Superdotação não é genialidade, não é um fenômeno raro. Não se autoeducam ou possuem por regra bom rendimento escolar. Porém, o bom entendimento, discernimento, e a aceitação dessas questões, é sem dúvida o ponto de partida para a sadia inclusão.
O atendimento não deve ser visto como “luxo”, e sim como necessidade, de cidadãos com os mesmos direitos e deveres. A verdadeira inclusão dos alunos com Altas Habilidades/Superdotação se dará por completo quando a Educação for responsabilidade não só do Estado, mas da família e da sociedade, visto que o beneficio de estende a todos: a turma (novos conhecimentos), ao professor (responsável pela formação), a escola (desenvolvimento de talentos e troca de experiências), e a nação (que tende a crescer através da pluralidade). Se bem entendido, o superdotado passará a conhecer a sua natureza, sua potencialidade, suas limitações e suas habilidades.
É de extrema importância à proposta de oferecer a eles desafios. Uma criança pode ser superdotada, mas não estar suficientemente desafiada. Talento esquecido é potencial não realizado.
“A mente que se abre para uma nova idéia, nunca mais retorna ao tamanho original”. Albert Einstein

Referências

ANDRADE, Teófilo Rogério Machado de. Toda criança é um gênio. Rio de Janeiro: UERJ, 1990.

BARRET, Susan. It’s all in your head. Minneapolis: Free Spirit Publishing, 1992.

DIAMOND, Marian. Convesation With Marian Diamond. Entrevista concedida a Ashish Ranpura, 2005. Disponível em: < http://brainconnection.positscience.com/topics/?main=conv/diamond> Acesso em: 12 out. 2011.

MACHADO, Ingrid de Oliveira. Altas habilidades e desenho: narrativas de uma experiência
pedagógica. Curitiba: I Congresso Internacional sobre Altas Habilidades/Superdotação, 2006.


































2 comentários:

  1. Ótimo site! Me ajudou muito com meu projeto! Obrigada.

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  2. olhe muito interessante este site eu fiz o meu projeto em cima desse projeto de voceis eu gostei muito mesmo estao de parabens

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